Algoritmos são os novos “anjos da guarda”
Se em algumas áreas de atuação os algoritmos podem gerar polêmicas, em outras os resultados desses complexos sistemas computacionais são determinantes para salvar vidas. Um dos exemplos mais claros é o da sua aplicação em tecnologias como as que medem fadiga e sonolência de motoristas.
Esses algoritmos já estão em ação em equipamentos usados em frotas privadas de grandes empresas em vários países no mundo, A partir de julho os chamados DMS – Driver Monitoring Systems, ou Sistemas de Monitoramento de Motorista, passam a ser obrigatórios em todos os veículos novos fábricados nos países membros da União Europeia.
Todos os veículos que circularem nos países do Bloco terão que ter um equipamento que identifique sono ou fadiga, algo obrigatório como é hoje o airbag em boa parte do mundo.
Causa forte
De acordo com dados oficiais da União Europeia, entre 15% e 20% dos acidentes graves estão relacionados à fadiga ou sonolência. Estima-se que no ano passado, das 20.400 mortes nas rodovias europeias, mais de 3 mil tenham sido causadas por motoristas fatigados ou com sono.
Sidnei Canhedo, biólogo e gestor da Optalert, de Melbourne, Austrália – líder mundial na tecnologia de controle de fadigas – essa determinação de uso obrigatório poderá ser um divisor de águas na redução drástica desses números, em prol da preservação de vidas de motoristas e pedestres.
“Dependendo do nível de tecnologia do sistema agora embarcado no veículo é como se o condutor tivesse um anjo da guarda infalível ao seu lado. Temos cases, em operações fechadas em mineradoras, que alcançam índices de eliminação total de acidentes graves causados por sonolência ou fadiga”, revela Canhedo.
Atenção máxima
Já são vários os modelos de medidores de fadiga disponíveis, com distintas aplicações de algoritmos. O mais respeitado mundialmente é o aplicado na JDS, sigla em inglês para Escala de Sonolência de Johns, uma métrica desenvolvida pelo fundador da Optalert, Dr. Murray Johns, autoridade de renome mundial em medicina e pesquisa do sono.
O algoritmo deriva 64 parâmetros dos movimentos da pálpebra superior (piscadas) e produz um valor agregado de zero a 10 na JDS de quão prejudicado alguém está devido à sonolência.
O sistema da Optalert mostra aos condutores um biomarcador objetivo que abrange a vigília plena até à sonolência extrema, incentivando os condutores a planejarem as suas rotas e paradas de descanso.
Sempre alerta
O sistema de algoritmos utiliza blefarometria de reflectância infravermelha (o estudo do movimento da pálpebra), para quantificar objetivamente a sonolência ou vigília.
A luz infravermelha, invisível para o usuário, é emitida na pálpebra superior. Um sensor detecta os reflexos das pálpebras e um processador integrado digitaliza os reflexos a 500 vezes por segundo.
Canhedo explica que o principal diferencial da biotech australiana é que seu sistema é o único preditivo. “Só ele acusa, em tempo real, qualquer aumento de sonolência, tanto para o motorista como na cabine de controle (no caso de operações fechadas), com uma antecedência de cerca de 15 a 20 minutos antes do operador cair no sono. Isso permite que haja tempo suficiente para que medidas possam ser tomadas antes de um possível acidente”, explica.
Proteção por wi fi
Um dos melhores exemplos disponíveis está nas minas da Vale, operadas nos municípios de Carajás e Marabá, no Pará. A aplicação é considerada a mais relevante do segmento de mineração no mundo na proteção de motoristas de uma operação fechada, onde atuam centenas de caminhões fora-de-estrada.
E não é para menos. Após 10 anos desde a implantação dos algoritmos da Optalert, a Vale conseguiu reduzir a zero o número de acidentes graves com condutores.
O sistema de algoritmos aplicados nestas operações consiste em um óculos, similar aos de segurança, com dois sensores de detecção que são conectados a um tablet por cabo, ou via Bluetooth, interligados por wi-fi à sala de controle de segurança da mina ou qualquer outro tipo de operação.
Escala de sono
Entre outros parâmetros, os óculos detectam alterações específicas na velocidade e tempo de abertura das pálpebras. Como resultado destas análises, ocorrem mudanças no gráfico de riscos, o que é representado na escala JDS de sonolência.
A tecnologia que compõem a escala JDS, desenvolvida pelo médico australiano Dr. Murray Johns, é utilizada por entidades como a Nasa e pela Harvard University e é considerada como a mais respeitada escala de sono do mundo.
Além de prevenção de acidentes, esse monitoramento proporciona ganhos em produtividade e em outros parâmetros estratégicos. Há dados que apontam para uma redução em custos de manutenção e consumo de combustível 10% menor.
Todo o sistema funciona dentro de uma plataforma exclusiva que conta com inteligência artificial para gerar detalhados relatórios de análises gráficas e de desempenho de funcionários.